(Patrono da Cadeira nº 88 da ABDT)
Cármino Longo nasceu em Salvador, Bahia, em 24 de abril de 1911. Era filho de Paschoal Longo e de Maria Luiza Longo. Fez seu Curso Secundário no Gymnasio da Bahia, no qual se habilitou, em 09 de março de 1931, para o exame vestibular da Faculdade de Direito da Bahia. Sua aprovação ocorreu em 08 de abril do mesmo ano, quando contava dezenove anos de idade [1].
Sob a direção de Bernardino José de Souza e tendo como paraninfo Rogério Gordilho de Faria, formou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais na turma de 1935, na qual foram seus contemporâneos, entre outros, Heitor Dias, Renato Bahia e, especialmente, Walter da Silveira [2], com quem manteve frequentes e acaloradas disputas no exercício da advocacia.
Seu patrocínio era predominantemente empresarial, destacando-se na defesa de bancos, indústrias e grandes comércios. Tinha por clientes instituições do nível da CHESF, Rádio Cultura e Esporte Clube Vitória – seu time de coração – associação desportiva que o levou a protagonizar as mais comentadas lides da década de 40 em matéria de futebol [3].
Apesar de o seu chão ser o Direito, foi Diretor do “Diário da Bahia” e habitual colaborador do “Diário de Notícias”.
Envolvido formalmente na política partidária, inclusive filiado ao Partido Social Democrático, disputou vaga para o Senado no pleito nacional de 19 de janeiro de 1947, quando, por expressiva quantidade de votos, se elegeu suplente de Antônio Pereira da Silva Moacir [4].
De elegante e fino trato incontestáveis, encarnava [5] a sua profissão a ponto de ser referenciado nos círculos forenses como o “príncipe dos advogados”. Nas calçadas do bairro do Comércio, pelo qual circulava para acessar a Rua Conselheiro Dantas, 26, onde estabelecera um dos mais prósperos e reputados escritórios das décadas de 40 e 50, desfilava em trajes impecáveis e revelava em cada gesto a exuberância de quem era consciente dos talentos que tinha.
Embora seus contemporâneos divirjam em torno da sua personalidade [6] – para alguns era um gênio rebelde, intempestivo e, em certa medida, arrogante; para outros, um articulador engenhoso, amistoso, solidário e cauteloso – todos são uníssonos em mencionar a sua fulgurante inteligência, o seu raciocínio rápido e a sua cordial paixão pelo Direito.
Era orador eloquente, um tribuno de magnífica cultura. Em suas obras, entre as quais se destaca a monografia “Proteção do salário contra os credores do empregado” (1953), publicada pela Casa editorial Imprensa Regina – que, aliás, foi sua tese de docência livre na Faculdade de Direito da Universidade da Bahia –, são frequentes as referências à jurisprudência e à doutrina italiana, com reiteradas menções, entre outros, a Barassi, Litala, Vicenzi e Riva Sanseverino, o que demonstra claramente a contribuição que esse ítalo-brasileiro ofereceu ao estudo do Direito do Trabalho nos primeiros anos de vigência da CLT.
Sobre sua participação no Concurso de Livre Docência de Direito Industrial e Legislação do Trabalho, iniciado em janeiro de 1953, cabe o registro de que não foram finalizados os exames necessários à obtenção do título por conta de um desafortunado infarto do miocárdio. À época, o então Diretor da Faculdade de Direito, professor Orlando Gomes, chegou a admitir o adiamento das provas que se realizariam em 10 de novembro de 1956, mas acabou por aceitar a desistência do candidato, solicitada em setembro de 1957, pelo mesmo motivo de saúde que ainda não lhe permitia atuar [7].
Faleceu às 9h do dia 24 de novembro de 1959, com apenas 48 anos de idade, deixando a sensação de que alcançaria os mais elevados voos acadêmicos, não fosse abatido pelo mesmo coração que o fizera apaixonado pela advocacia e, é claro, pelo Direito. Foi vitimado por novo infarto, havido em sua residência, no Bulevar Suíço, 4, Nazaré, bairro central da cidade de Salvador.
Deixou viúva e uma filha, Suzana Helena Navarro Longo [8]. Seu exemplo profissional o fará lembrado, também, como Patrono das Cadeiras nº 26 da Academia de Letras Jurídicas da Bahia e nº 88 da Academia Brasileira de Direito do Trabalho.
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* Extraído do discurso de posse de Luciano Dorea Martinez Carreiro na Academia de Letras Jurídicas da Bahia.
[1] Dados colhidos no Memorial da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (FD-UFBA).
[2] Dados colhidos no Memorial da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia.
[3] O caso “Gringo”, por exemplo.
[4] Ver http.//www.eleicoespos1945.com/1965/bahia_1947_senador.html. Capturado em 24 de setembro de 2013.
[5] Sob a inscrição 453 e a carteira 492, emitida pela seccional baiana da OAB.
[6] Foram entrevistados Luiz de Pinho Pedreira da Silva, Washington Luiz da Trindade, Eurípedes Brito Cunha, Olival da Silva Ribeiro e Jorge Sotero Borba.
[7] Dados colhidos no Memorial da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (FD-UFBA).
[8] Conforme dados constantes de sua guia de óbito e certidão de óbito, esta escriturada junto ao Registro Civil de Pessoas Naturais do Subdistrito de Sant’Ana da Comarca de Salvador – Bahia.
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