Rômulo Gomes Cardim

04/12/1979

RÔMULO GOMES CARDIM

Por Rosita de Nazaré Sidrim Nassar

Rômulo Gomes Cardim nasceu em Santa Teresa de Valença, Estado do Rio de Janeiro, em 1º de novembro de 1898, filho de Adélia Bueno Brandão Castelo Branco de Avelar Figueira e de Francisco Eduardo Gomes Cardim.

Adélia pertencia à aristocracia rural do Vale do Paraíba, contando com dois titulares do Império entre os seus ancestrais; e Francisco, natural de Setúbal, Portugal, era irmão do ilustre maestro e compositor João Pedro Gomes Cardim, fundador do Conservatório de Música de São Paulo e descendente, por linha colateral, do escritor seiscentista, o jesuíta Fernão Cardim, nascido por volta de 1549 em Portugal e falecido em 1625 no Brasil.

Fernão Cardim escreveu os clássicos Tratados da Terra e Gente do Brasil, livros que registram a pesquisa que fez sobre a origem dos índios do Brasil e suas observações a respeito do clima e terra do país.

O Padre Fernão Cardim fez longa peregrinação pelas capitanias da Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Vicente, e desse jornadear nasceram os referidos Tratados, obras de inegável valor descritivo para a nossa história econômica.

Mais de dois séculos se passaram e, com o fim da Monarquia, os Cardim perderam quase todo o patrimônio, e Rômulo, membro de numerosa família, foi criado com dificuldade financeira. Anos depois, a família Cardim mudou-se para o Rio de Janeiro, onde o pai veio a falecer em 1904.

Sua mãe, com grande bravura, graças ao magistério dos idiomas Francês e Inglês, conseguiu formar os filhos. Elmano e Plínio tornaram-se jornalistas, Walter, engenheiro e catedrático de Física e Matemática, Zaíra e Nadina foram altas funcionárias na reitoria da Universidade do Rio de Janeiro e no Ministério da Educação, respectivamente.

Rômulo, entretanto, optou pelo autodidatismo, preferindo os livros às aulas. Com apenas 16 anos logrou colocação em importante casa de comércio inglesa – a Richard Wichello & Co. –, onde, de imediato, demonstrou talento e inteligência, tendo alcançado, mercê de seus conhecimentos de línguas estrangeiras, um cargo de direção.

Aos 21 anos de idade afastou-se da aludida casa comercial e fundou, juntamente com Henrique Simonsen, a firma importadora de máquinas agrícolas e caldeiras, denominada R. Cardim e Cia.

Já contando com bastante êxito na vida comercial e estabilidade financeira, resultante de suas extraordinárias virtudes, casou-se, aos 24 anos, com Paulina Ortega, com quem teve cinco filhos.

O sucesso empresarial que o levou, inclusive, à abastança contrastou com as dificuldades havidas na infância e juventude, mas não apagou seu interesse pelas coisas do espírito. Formou extensa biblioteca, da qual faziam parte as grandes obras da Literatura Universal, ao lado de livros de Direito e Filosofia.

Seu largo descortino e a invejável facilidade de redação permitiram que conquistasse a amizade de diversos expoentes da intelectualidade. Foi poeta – talvez “herança literária” do jesuíta Fernão Cardim –, e seus poemas, foram divulgados amplamente em livros e jornais bem como em leituras radiofônicas realizadas por seu amigo pessoal Dom Marcos Barbosa, o Abade do Mosteiro de São Bento, que, tempos depois, foi eleito “imortal”, na Academia Brasileira de Letras.

Rômulo Cardim foi diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro, membro do antigo Conselho Nacional do Trabalho e Ministro Classista empregador do Tribunal Superior do Trabalho, atividade que exerceu por mais de trinta anos e onde angariou fama e prestígio, consequência natural de seu brilhantismo e espírito de luta.

Alvo da admiração de seus colegas e advogados, Rômulo Cardim faleceu aos 87 anos de idade, em 20 de setembro de 1985, no Rio de Janeiro.

O nome de Rômulo Gomes Cardim, escolhido por Eugênio Roberto Haddock Lobo para Patrono da Cadeira n. 23, de acordo com o disposto no art. 15 do Estatuto desta Academia, hoje é lembrado como uma referência na representação classista na Justiça do Trabalho.

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Fonte: Discurso de posse de Rosita de Nazaré Sidrim Nassar na Academia Nacional de Direito do Trabalho, proferido em 28.11.1997.

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