O país mais feliz do mundo

03/04/2024

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Por Almir Pazzianotto Pinto

Relatório produzido pela Rede de Soluções Para o Desenvolvimento Sustentável. instituição ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), aponta a Finlândia como o país mais feliz do mundo.
Os primeiros lugares, na extensa relação, couberam a países nórdicos, ou seja, com reduzida área territorial, pequena população e, sobretudo, frios, porque situados no extremo norte da Europa, como ocorre com Dinamarca, Islândia e Suécia. O Brasil, rico em diversidade climática e territorial, ocupa a 44ª posição, abaixo da Costa Rica e Kuwait. Estados Unidos e Alemanha ficaram, respectivamente, com o 23º e 24º lugar.
Tenho amigos residentes na Finlândia. Correspondo-me frequentemente com eles. Recebo fotografias de lugares onde a temperatura pode baixar a -30ºC. A área total é de apenas 338.145 km2, e a população de aproximadamente 6 milhões de habitantes. Boa parte do País é ocupado por florestas naturais e cultivadas, permanecendo sob neve a maior parte do ano
A elaboração do relatório considera a qualidade de vida da população, os serviços públicos de educação, saúde, o nível de segurança e à avaliação que as pessoas fazem da própria felicidade, além de dados econômicos e sociais.
Se o relatório buscasse informações na Constituição de cada país, o Brasil certamente ocuparia a primeira posição. Com efeito, desconheço outra que dedique à Ordem Social tantos benefícios e direitos como a nossa. Quando a leio e examino a relação dos integrantes da Assembleia Nacional constituinte, me pergunto como conseguiram ser tão utópicos e alheios à realidade. Estariam sonhando ou inebriados?
Vejamos, a título de exemplo, o Art.196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Recentemente o presidente Luís Inácio Lula da Silva passou por cirurgia destinada a lhe resolver problemas de locomoção. A intervenção cirúrgica se deu em hospital particular, inacessível a 90% da população. S. Exa. não admite que digam ter recebido tratamento privilegiado, mas confessa a existência de 40 mil doentes à interminável fila de espera da mesma cirurgia, pelo Serviço Único de Saúde (SUS).
Há pouco tempo, fisioterapeuta proprietária de pequena clínica, me descrevia o sofrimento de adolescentes vítimas de Escoliose Idiopática, com substancial perda de qualidade de vida, deformidade visível (curvatura da coluna vertebral), dor incessante, e limitações funcionais progressivas. A causa não é conhecida, mas atinge cerca de 12% da população, em maior número do sexo feminino. Relatou caso de adolescente que veio a falecer.
Segundo a Sociedade Científica Internacional sobre Tratamento Ortopédico e de Reabilitação da Escoliose (SOSORT), se a doença for diagnosticada precocemente o tratamento será feito mediante exercícios específicos. Se ocorrer quando se encontrar em estado avançado, quase sempre haverá necessidade de cirurgia.
Como acontece com a escoliose, a rede pública não dispõe de meios humanos e materiais para dar efetivo atendimento a longa série de doenças graves. O dispositivo constitucional existe, mas revestido de caráter programático, e assim permanece há mais de 35 anos.
As Constituições da Finlândia, da Dinamarca, Islândia, Suécia, por certo não prometem mais do que as condições econômicas e sociais lhes permitem oferecer. São países onde a política é praticada com honestidade. A nossa é a mais extensa ou, se preferirem, a mais prolixa ou mendaz. Em termos de falsidade, nenhuma outra a supera.
Se alguém do Ministério da Saúde, ou do SUS, ler este artigo, por favor, as vítimas de Escoliose Idiopática clamam por ajuda, mas que não seja dentro de 10 ou 20 anos, mas para já. A doença exige especialização médica e de fisioterapia, e poucas são as famílias em condições de recorrer a hospitais, fisioterapeutas e médicos particulares.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da Academia

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