A Revolta dos 18 do Forte Copacabana

19/03/2024

-

Compartilhe:

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter

Por Almir Pazzianotto Pinto

A Revolta do Forte Copacabana, em 5 de maio de 1922, constitui uma das páginas memoráveis da história do Exército Brasileiro. Foi deflagrada contra o governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), a eleição de Arthur Bernardes, a decretação do fechamento do Clube Militar e a prisão do marechal Hermes da Fonseca, ex-presidente da República.

                        O Forte Copacabana era comandado pelo capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do marechal Hermes. A guarnição compunha-se de 250 soldados e 23 oficiais. A substituição do capitão Euclides pelo capitão José da Silva Barbosa, por ordem do general Bonifácio Gomes da Costa, comandante do 1º Distrito de Artilharia da Costa, foi o estopim da revolta. Relata o Novo Dicionário de História do Brasil (Edições Melhoramentos, SP, 1971, pág. 282): “À 1 hora do dia 5 os canhões do Forte dão o sinal combinado, atirando contra a Ilha de Cotunduba: é o começo da revolução, à qual logo aderem a mocidade da Escola Militar e elementos do 1º Regimento de Infantaria e do 1º Batalhão de Infantaria. Mas o movimento está destinado ao malogro. A última hora, unidades comprometidas recuam; a revolta, isolada em seus focos principais, após breves combates é prontamente dominada”.

                        Edgard Carone reproduziu no livro O Tenentismo entrevista do tenente Newton Prado ao Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, edição de 7/7/1922: “O tenente Siqueira Campos (1898-1930) dirigiu-se a todos, em número de mais ou menos de duzentos e oitenta com os oficiais, e declarou: – ‘O governo vai iniciar as hostilidades contra o Forte com elementos os mais terríveis; a hora tocou. Quem quiser partir, o governo garante a vida; quem quiser ficar, fique, mas posso prevenir que nada de bom nos espera’. Foi aberta a porta do Forte, e saíram, sob as nossas vistas, cento e cinquenta soldados e treze oficiais. Ficamos eu, o tenente Siqueira Campos e quatorze soldados. Às duas horas da tarde, mais ou menos, saímos do Forte para morrer” (….) “O choque foi medonho; cessaram os estampidos da fuzilaria, substituídos, então, pelos gritos dos atacantes e pelo alarido dos atacados surpreendidos pela audácia do movimento. O tiroteio durou meia hora; a carga de baionetas decidiu a ação em menos de cinco minutos trágicos, indescritíveis e cheios de horrores de um final de combate a arma branca” (Ed. Difel, SP, 1975, pág. 39).

                        A descrição do Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro é semelhante: “Às 13:30 os revoltosos saltaram a barricada e, sob o comando de Siqueira Campos, seguiram pela avenida Atlântica em direção ao Leme. Houve várias deserções, mas um civil, Otávio Correia, aderiu aos revoltosos e recebeu o pedaço da bandeira destinado ao capitão Euclides. A tropa do governo avançou e o tenente legalista João de Segadas Viana tentou dissuadi-los do combate. O capitão Brasil interveio e gritou com os revoltosos. Siqueira Campos reagiu arrancando os botões de sua túnica e proclamando que não mais pertencia ao Exército. O capitão Brasil deu ordens de atirar. Os 15 revoltosos abrigaram-se atrás do paredão da calçada e responderam ao fogo, enfrentando durante mais de 11 minutos o ataque das forças do Exército, da Polícia Militar e do Batalhão Naval. Siqueira Campos, ferido na mão, atirou na boca do sargento Lindolfo Garcia, que revidou enterrando-lhe a baioneta no fígado” (DHBB, Ed. FGV-Cpdoc, RJ, 2001, vol. I, pág. 1.038).

Na opinião de Lira Neto, “Começava, ali a mística do movimento que mais tarde viria a ser conhecido como “tenentismo” – pelo fato de ter se disseminado entre a jovem oficialidade dos quartéis sacralizado pela imagem heroica dos ‘Dezoito do Forte’, o número hipotético de rebeldes que haviam lutado até o fim” (Getúlio 1882-1930. Companhia das Letras, SP, pág. 179).

A Revolta dos 18 do Forte Copacabana foi desesperada tentativa de golpe de Estado. Tomada a decisão de confrontar o governo, cientes da derrota não vacilaram e partiram para o sacrifício. O tenente Mario Carpenter foi morto em combate. O tenente Newton Prado faleceu sete dias depois, vítima dos ferimentos sofridos no campo de batalha. Sobreviveram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

Não havia tempo para elucubrações e trocas de mensagens. As circunstâncias exigiam desamor à vida e decisão. O sangrento golpe de estado foi tentado, interrompido e derrotado por forças do governo, superiores em armas e homens. Deixou, porém, para a História capítulo glorioso de valentia e amor à Pátria.

Comparações com os fatos de dezembro de 2023, sob investigação da Polícia Federal, revelariam caso de demência.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da Academia

Notícias relacionadas

08/07/2024

Prazo prorrogado até o dia 10 de julho E-mail: congresso@andt.org.br A Academia Brasileira de Direito do Trabalho…

08/07/2024

ABDT realiza encontro sobre  “Habilidades Humanas nas Relações de Trabalho Robotizadas”. Evento…