Matéria Especial do Jornal Estado de São Paulo sobre Rodolfo Pamplona

25/06/2022

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Rodolfo Pamplona Filho, de 50 anos, é juiz da 32.ª Vara do Trabalho de Salvador, professor universitário de Direito, presidente da Academia de Letras Jurídicas da Bahia e por aí vai. Os títulos e vinculações rendem uma lista caprichada, mas o que chama mesmo a atenção no currículo é a maneira como consegue conectar Direito e Arte. Seja cantando em palestras, fazendo os alunos se fantasiarem na sala de aula ou despachando petição em formato de poema, ele desconstrói a ideia de que o Direito é quadrado e faz questão de emplacar os hobbies na profissão.

Em busca da quebra dos padrões do ensino, trabalha com casos fictícios a partir de personagens de filmes, séries, desenhos, novelas. Já imaginou a Branca de Neve processando os sete anões, alegando vínculo empregatício doméstico? E o Bob Esponja abrindo uma reclamação contra o seu Sirigueijo, pedindo equiparação salarial com Lula Molusco e alegando assédio moral?

Com 26 anos como professor, há 17 Rodolfo adota em sala de aula audiências simuladas com um toque especial. Em vez de simularem casos reais, os alunos de Direito Processual do Trabalho e Prática Trabalhista usam a criatividade. “No início, os alunos ficam intimidados em sair da caixinha, mas depois se encantam e entram mesmo na brincadeira, com direito à fantasia e tudo”, conta o magistrado. Mas o pensar fora da caixa nem sempre é visto com bons olhos.

“Quando eu comecei, as pessoas achavam que eu era maluco. Hoje, algumas têm certeza disso. Mas, brincadeiras à parte, a minha forma de ensinar pode não ser sisuda, mas é séria, as pessoas confundem muito as duas coisas. Aceito que critiquem, mas não que deslegitimem”, acrescenta.

O professor destaca que trabalhar com a ficção faz os alunos estudarem ainda mais e as experiências inusitadas acabam se destacando em meio ao “mais do mesmo” e, assim, ficam marcadas na memória dos estudantes. E as inovações não param por aí. Além das audiências simuladas, Rodolfo usa a brincadeira “torta na cara” como método de avaliação em disciplinas como Temas Aprofundados de Direito Civil e Bases das Relações Privadas.

“São disciplinas teóricas, então eu adoto essa parte mais dinâmica dessa forma porque ajuda os alunos a treinarem para o exame da OAB, no qual têm pouco tempo para responder às questões. Eu elaboro entre 80 e 100 questões, aí quem responde errado recebe do colega a torta na cara. Quem não quiser não participa e temos o lema de que a brincadeira só tem graça quando todo mundo acha legal”, explica.
Rodolfo diz que, na época de sua graduação, o aprendizado era mecânico e os alunos decoravam “o pensamento bruto do professor”. Para desconstruir a ideia de que o Direito é chato, diz ele, resolveu optar por outros caminhos. “Eu sempre busco trazer uma maneira diferente porque quero que o aluno realmente aprenda. Essas modalidades diferenciadas fazem com que eles desenvolvam expertise, jogo de cintura para improvisação e agilidade para respostas rápidas, por exemplo”, justifica.

Essa postura informal e descontraída de Rodolfo não se limita às salas de aula. Nas palestras que ministra pelo País, também usa seu toque especial. Quando o tema é Direito de família e o sistema normativo que reprime a mulher, Rodolfo canta e toca Emília, de Wilson Batista, e Amélia, de Mário Lago, por exemplo. Quando é sobre divórcio, desquite e separação, a playlist tem Trocando em Miúdos, de Chico Buarque, e Drão, de Gilberto Gil. “Eu faço o pessoal ficar de pé, bater palma e até as plateias mais formais se divertem”, conta.

COMO JUIZ. Até mesmo na atuação de magistrado Rodolfo diz que é possível fugir da figura de “sisudo”. “Como juiz, eu sou informal. Faço questão de bater papo com as partes para quebrar o gelo. É uma tática para conquistar o objetivo, que é fazer elas se entenderem, chegarem a um acordo. Aí eu falo de futebol, de filme, dos meus cachorros, faço de tudo para que as pessoas tirem as armaduras e se acertem”, destaca.

Rodolfo faz questão de lembrar que já chegou a fazer um despacho em formato de poema. Desta vez, a iniciativa não partiu dele, mas bem que poderia. “Era um processo em que um valor já podia ser liberado e foi barrado pela juíza anterior. O advogado fez a petição em estrofes rimadas e me entregou. Talvez até uma ousadia da parte dele, não sei, mas eu não me ofendi, entrei na brincadeira. Despachei o processo também em versos”, diz. •

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da Academia

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